A recente polêmica envolvendo o rastreamento do câncer de próstata ofuscou o início da campanha Novembro Azul, servindo aos homens como mais um pretexto para adiar a ida ao médico.
Entre todos os cânceres que acometem a população masculina, o de próstata é o que mais mata os gaúchos, tendo incidência crescente com o envelhecimento da população, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCa). Discutir as estratégias de diagnóstico e tratamento desta doença é importante para orientar as políticas de saúde pública. Trata-se de um debate tipicamente acadêmico, onde as evidências existentes são analisada, discutidas e dissecadas, descartando os resultados de pesquisas com metodologia inadequada e considerando, nos restantes, as diferenças populacionais, culturais e de acesso aos serviços de saúde de cada local.
É verdade que o INCa "não recomenda que se organizem campanhas de rastreamento do câncer de próstata?. Esta afirmação é baseada em outra verdade, a de que não há evidencias definitivas acerca dos benefícios (ou eventuais malefícios) deste rastreamento. Mas também é verdade que o diagnóstico tardio diminui as opções de tratamento e as possibilidades de cura deste câncer.
As verdades, na medicina, não são imutáveis ou eternas; são frutos do momento, baseadas em conhecimento crescente e cumulativo.
Lembro o paradoxo estatístico percebido no início da minha carreira como médico cirurgião em Porto Alegre: em muitas doenças descritas na literatura como mais comuns no sexo masculino, atende-se mais mulheres do que homens. A conclusão empírica é simples: em nosso meio, as mulheres acessam mais os serviços de saúde do que os homens.
Somando este quadro ao conhecido preconceito em relação ao exame clínico urológico e ao toque retal, percebemos a importância de campanhas como o Novembro Azul, estimulando os homens a cuidar mais da própria saúde. Atualmente, a melhor estratégia para prevenir o câncer de próstata consiste em consultar o seu médico, discutir os riscos e benefícios envolvidos e definir individualmente a conduta a seguir.
Alexandre Guimarães Escobar
Médico, Diretor de Saúde do IPERGS